Criado por estudantes, projeto voluntário leva atendimento médico para áreas de vulnerabilidade social em Sorocaba: 'Transforma a visão de mundo'
04/07/2025
(Foto: Reprodução) Iniciativa foi criada por alunos de uma faculdade da capital paulista e já levou mais de 10 mil atendimentos a áreas de situação de vulnerabilidade social em diversos pontos do país. Projeto conta com estudantes de diversas especialidades da saúde
Arquivo pessoal
Fazer o bem, sem olhar a quem. É pensando exatamente nesta frase que os alunos da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, em São Paulo (SP), decidiram criar um projeto de atendimento médico voluntário e gratuito voltado às áreas de vulnerabilidade social em diversos pontos de todo o país.
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Com 43 estudantes de diversas especialidades da saúde, o Projeto Travessia foi criado em 2021 e já acumula mais de 10 mil atendimentos bem sucedidos. Agora, ele chega à Comunidade Santa Rosa, na zona norte de Sorocaba (SP), a partir deste sábado (5).
Ao g1, o presidente da organização, Allan Calmont, explica que os procedimentos ainda são iniciais. Para começar os atendimentos na prática, é necessária a elaboração de um censo entre os moradores da região para entender quais são as especialidades mais necessitadas pelas pessoas.
"Nós fizemos uma parceria com a Pontifícia Universidade Católica (PUC) e, no sábado (5), das 5h às 10h, nossos voluntários farão um censo para identificar as principais preocupações de saúde das pessoas que ali habitam. Eu já estive no local para uma vistoria técnica e tenho uma noção do que eles precisam, mas o censo servirá para consolidar essas informações e direcionar nossos esforços", conta.
Depois da elaboração e constatação das estatísticas, os voluntários da área da saúde serão enviados ao local para os atendimentos práticos, no dia 13 de setembro. Como novidade, o projeto também tem incluído a participação de voluntários do ramo da psicologia.
"A ideia é oferecer atendimento em diversas especialidades, como pediatria, dermatologia, nutrição, fisioterapia e odontologia, entre outras, sempre sob a supervisão e orientação de um professor responsável. Agora, com a evolução do Travessia, estamos conseguindo envolver alunos da área da psicologia", celebra.
Atualmente, são 43 alunos de diferentes especialidades
Arquivo pessoal
No início, o voluntariado costumava atender somente comunidades vulneráveis da região da Grande São Paulo, como Brasilândia e Paraisópolis. Com o tempo, as atividades foram estendidas para quilombos do Vale do Ribeira, como Ivaporunduva e São Pedro, em Eldorado (SP).
Em 2024, os participantes tiveram a chance de sair do estado de São Paulo de forma profissional pela primeira vez. Por meio de uma expedição, os voluntários foram até Vera Cruz (BA), que fica a 23 quilômetros de Salvador (BA), via balsa, onde concluíram 1,2 mil atendimentos.
"Foi um marco extremamente importante para nós. Em apenas uma semana, conseguimos chegar na marca de 1.222 pessoas atendidas e tivemos experiências bastante marcantes e significativas. A cidade carece muito de médicos especialistas. Conhecemos uma mulher que reclamava de uma simples dor na perna que, na verdade, se tratava de uma trombose profunda. Encaminhamos ela à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima e vimos que, além disso, ela estava com câncer", relata.
Allan e a equipe já estiveram em diferentes comunidades de diferentes pontos do país
Arquivo pessoal
Para Allan, sua experiência individual mais marcante foi logo a primeira, em atuação na comunidade de Guaianases, na capital paulista. A situação foi tão impactante que, mesmo com 32 anos e na segunda graduação, ele decidiu se dedicar ao projeto de forma mais intensiva.
"Lá, eu conheci uma criança que havia sido abusada sexualmente pelo padrasto. Ela era muito jovem e apresentava diversas questões. Mais para frente, descobrimos que ela possuía o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Foi muito chocante para mim. Por conta deste caso, fizemos uma nova ação voltada ao neurodesenvolvimento, já que outras crianças apresentavam neurodivergências. Eu decidi me dedicar à diretoria e, posteriormente, à presidência", comenta.
Aprendizado com a comunidade
Na visão do estudante, o projeto é capaz de transformar a visão de mundo de quem participa. De acordo com Allan, muitos dos estudantes possuem uma vida privilegiada, se analisada sob um ponto de vista socioeconômico.
"O Travessia acrescenta em vários sentidos. Apesar dos estudantes do Einstein rodarem em algumas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), boa parte dos estágios é feita no hospital da própria instituição. As oportunidades de 'sair da bolha' são capazes de transformar, já que diversos alunos são extremamente privilegiados e, em muitas vezes, nunca pisaram em uma favela", destaca.
"Nós aprendemos muito com a comunidade. Na Bahia, por exemplo, tivemos aulas e capacitações sobre a cultura local, experimentamos comidas típicas, tivemos uma troca muito interessante. É importante para se tornar um profissional mais humano. Os médicos estão cada vez mais frios e as pessoas precisam de ajuda", finaliza.
O projeto, que também possui parceria com a Central Única das Favelas (Cufa) de Sorocaba, tem apoio da TV TEM. Mais informações podem ser obtidas pelo site ou pelas redes sociais da organização.
Projeto chega a Sorocaba (SP) para censo neste sábado (5)
Arquivo pessoal
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*Colaborou sob supervisão de Gabriela Almeida
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